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Jardinando sem se perder
Como escrever narrativas longas sem planejar de antemão?
Fevereiro passou, março tá quase na metade e eu continuo escrevendo minha tese de doutorado. A principal dificuldade de trabalhar sentada na frente do computador escrevendo é que, quando sobra tempo livre, você não quer continuar sentada na frente do computador escrevendo — mesmo que seja ficção. Durante esse tempo que eu passei sem poder escrever com constância, eu voltei com uma prática que me ajudou bastante a escrever Colégio 1: a parede de post-its.

A parede de post-its (de longe, pra não dar spoiler) feat. meu gato sensualizando na cama.
Colégio do Lago Transverso é uma história com muitos personagens de ponto de vista (POV) e várias subtramas interligadas. Além disso, eu sou uma escritora jardineira (termo usado para descrever escritores que não fazem um planejamento detalhado antes de começar a escrever). Por isso, quando não posso escrever com constância, é muito fácil eu me perder na minha própria história.
O senso comum sobre escritores jardineiros é inspirado naquele arquétipo clássico do escritor tocado pelas musas. O jardineiro consegue terminar um livro sem planejar porque ele é um gênio excêntrico com uma capacidade quase mágica de fazer a história fazer sentido mesmo sem ter planejado coisa alguma. Evidentemente, esse esteriótipo não passa de uma ficção. Existem tantos jeitos de escrever quanto há escritores, mas eu, pessoalmente, sou uma jardineira muito organizada, quase mendeliana.
As minhas histórias não são planejadas, mas elas são mapeadas. Com isso eu quero dizer que eu não estabeleço a priori todas as cenas que entrarão no livro, mas eu registro as que já estão. No caso de Colégio, eu faço um registro dos capítulos anotando algumas informações importantes:
qual o personagem de POV,
quando os eventos do capítulo ocorrem dentro da cronologia da história,
resumo do capítulo.
A parede de post-its serve para que eu possa enxergar todas essas informações na minha frente na hora de decidir qual será o próximo capítulo. A cor de cada post-it corresponde ao POV do capítulo (Alice, Seiji, Eladio, Catarina, Silence e Extras) e a posição determina a cronologia dos eventos. O resumo de cada capítulo eu coloco no texto do post-it, e o espaço limitado garante que eu me atenha aos eventos mais essenciais à trama. Os post-its são organizados em fileiras de 6 elementos. A ideia é que cada fileira tenha um post-it de cada cor. Assim eu garanto que os POVs estão distribuídos de forma mais ou menos equivalente ao longo da história.
É um arranjo muito conveniente. Se eu quiser ter uma ideia de como está o arco de um determinado personagem, eu me atenho aos post-its de uma mesma cor. Se eu quero ver o andamento cronológico da história, eu leio os post-its em ordem. É muito comum que, depois de terminar um capítulo, eu fique em dúvida entre 2 ou 3 ideias para o capítulo seguinte. Nesses casos, eu escrevo 2 ou 3 post-its com as minhas ideias e tento as encaixar na parede.
O mais legal é que, por estar na minha parede, serve também como uma espécie de estímulo visual para que eu pense na história — mesmo quando estou sem tempo para escrever. Quando ainda estou decidindo qual será o próximo capítulo que vou escrever, é comum eu olhar os post-its recentemente colados, me perguntar se a ordem dos eventos faz sentido e rearranjar as peças se necessário. No último mês eu consegui terminar todas as edições que eu queria fazer em Colégio 2. Depois disso, me pus a pensar sobre qual seria o capítulo 11. Eu tinha 3 ideias diferentes e fiquei brincando de rearranjar os quadradinhos coloridos na parede até chegar à uma conclusão. Para quem ficou com curiosidade, o capítulo 11 será do Eladio.
Enfim, são essas as atualizações de Fevereiro. Espero que tenham gostado de ler um pouco mais sobre meu processo criativo. Obrigada por acompanharem o Cházinho Cosmomântico e até a próxima! 🫖✨